Há momentos em que a vida passa a uma velocidade vertiginosa diante dos nossos olhos.
Ontem, foi um desses momentos…
De regresso a casa, após um jantar com um amigo, enquanto conduzia na A1, tive o segundo encontro com a efemeridadedavida, na primeira pessoa.
Viajava a 80km/h na faixa da direita, em silêncio e sem pressa de chegar. Mergulhada na retrospetiva do dia. Quando, de repente, ouço uma travagem brusca de um carro que quase embateu de frente na porta do meu lado. Vinha completamente descontrolado. Para não me bater, virou repentinamente enfatizando ainda mais a perda do controlo da trajetória que trazia e, depois de passar pelo meu carro a uma distância que não me permitiu ver a estrada entre os dois veículos, andou em ziguezague pelas três faixas até o perder de vista.
Quando lembro a razia que fez à minha porta é inevitável não pensar na efemeridade da vida…
Foi tudo tão rápido e inesperado que apenas me limitei a desacelerar. Foi perturbador… Creio que fiquei em choque, por momentos, pois não consegui articular palavra e senti-me momentaneamente paralisada e com a boca dormente.
Depois vieram os pensamentos em catadupa: … e se estivesse a conduzir a outra velocidade? a colisão seria praticamente inevitável pois o embate não aconteceu por uma diferença mínima de distância… se eu fosse ainda com mais velocidade ele poderia apanhar-me mais à frente quando quase capotava pela falta de controlo na estrada… se me tivesse batido, à velocidade que vinha (mesmo de fronte na minha porta) o que me teria acontecido? estaria ainda por cá? em que condições?
Recordando Alan Watts: “The truth is, we know so little about life, we don’t really know what the good news is and what the bad news is,” tal é a complexidade de todo o processo da natureza.
Watts desafia-nos a cultivar uma disciplina mental de não categorização em ganho vs perda, positivo vs negativo. Instiga-nos a viver de tal forma que nada é experienciado como uma vantagem ou desvantagem. Watts acredita que tal atitude é a origem de um enorme empowerment e libertação.
Não obstante, não posso deixar de sentir uma profunda gratidão por, mais uma vez, o universo me poupar daquilo que poderia ter sido um trágico infortúnio mesmo que camuflasse uma grande bênção. Agradeço (de coração) por mais uma oportunidade de ver e sentir diante dos meus olhos a efemeridade da vida e a vulnerabilidade de que somos feitos, podendo prosseguir ainda mais consciente do seu valor. É sempre um despertar para a importância de escolhermos e criarmos momentos felizes, pois nada, AB-SO-LU-TA-MEN-TE NADA, é garantido e ninguém sabe qual será o seu último momento aqui e agora.
Sejamos Felizes.
Gratidão _/|\_